O Yoga é um caminho de auto-descoberta que se encontra além das posturas e das suas técnicas. Como o percebo, ele é um diálogo silencioso entre o corpo, a mente e o espírito. Cada movimento, cada respiração, cada pausa nos conecta com a nossa natureza essencial, fazendo-nos perceber que somos organismos vivos, sensíveis e em constante transformação.
No Yoga, as ferramentas que usamos — os āsanas (posturas), o prāṇāyāma (comando da respiração), os bandhas (selos energéticos) e a meditação — não são apenas técnicas ou exercícios, mas sim veículos e formas de dialogar com o nosso corpo. Cada prática fala a linguagem do corpo, e o corpo, por sua vez, responde a essa linguagem com a sua própria inteligência,
Quando nos movemos nas posturas, não estamos apenas a alongar ou a fortalecer os músculos. Estamos a desenvolver uma escuta profunda em nós, a aprender a sentir o corpo como um organismo vivo, que expressa suas emoções, pensamentos e os bloqueios que muitas vezes não conseguimos verbalizar. No movimento das posturas, liberamos as latências emocionais que guardamos, muitas vezes, na forma de tensões, resistências ou limitações. O Yoga ensina-nos a sentir onde essas emoções ficam armazenadas e, ao nos movermos conscientemente podemos dialogar com essas latências e aprender que muitas delas não vestem a pessoa de hoje. Podemos abrir caminhos novos e deixar ir esses registos, e dar espaço para a liberdade, para o novo. Daí muitas vezes terminarmos as práticas com a sensação de leveza e bem estar.
A respiração, neste diálogo, assume um papel fundamental. Ela não é apenas uma função biológica ao nosso dispor, mas um guia que nos conduz ao pulso da vida. Em uma primeira fase, aprender a respirar de forma consciente faz-nos entrar em sintonia com o ritmo natural da vida e com a serenidade que buscamos. Quando respiramos com presença, conectamo-nos com a energia vital que permeia o corpo e atravessa o nosso ser, e o universo inteiro. A respiração nos conduz a um espaço profundo que permeia o fluxo da mente, um silêncio único que se abre diante de nós. Nesse silêncio, os pensamentos pousam e se aquietam, permitindo-nos aceder a um estado de clareza interior e ao equilíbrio e paz que existem em nós.
A respiração muitas vezes é considerada a ponte entre o corpo e a mente emocional, mas ela é no fundo um guia para a lembrança da totalidade que somos.
Cada uma dessas ferramentas age em diferentes dimensões do ser humano. Os āsanas nos relacionam com o corpo físico, ajudando-nos a restaurar a estabilidade e o diálogo com o mundo.
O prāṇāyāma atua na mente, abrindo espaços de quietude e clareza para a nossa vida.
Os bandhas, enquanto ativações energéticas, estimulam o fluxo vital no corpo, revigorando a nossa energia e vitalidade.
A meditação, por fim, é o espaço onde todas essas práticas se encontram, devolvendo-nos ao centro, à consciência daquilo que somos, que para mim é essencialmente, o amor.
Ao entender como o yoga atua nessas dimensões do ser humano, e mesmo que pareçam distintas são na verdade uma composição da melodia da Vida, podemos entender como ele interfere no nosso quotidiano, nas nossas relações e nas nossas escolhas. O Yoga, assim, se torna um meio de experimentar e transformar a relação connosco mesmos, com os outros e com o mundo.
Reaprender a Linguagem do Corpo
Num mundo cada vez mais rápido e exigente, somos empurrados e afastados deste diálogo, para buscar tantas demandas externas que ilusoriamente aprendemos a chamar de importantes. Infelizmente é notável cada vez mais esse afastamento, vemos um mundo cheio de corpos ansiosos e mecânicos. Estamos a esquecer a linguagem do corpo — aquela que fala em sensações, emoções e respostas intuitivas. O Yoga nos convida a reaprender essa linguagem, para podermos regular o nosso sistema de luta e fuga e definitivamente lidar de maneira mais harmoniosa com os desafios diários.
Ao devolvermo-nos ao tempo do corpo e da respiração, criamos um espaço interno de estabilidade, de integridade, em que o corpo digere as emoções, a mente se clareia e a verdadeira paz pode emergir.
O Yoga nos ensina que, ao ouvir e cuidar do nosso corpo, podemos enfrentar as exigências do mundo com mais clareza, serenidade e resiliência. A prática nos ajuda a voltar para nós mesmos, a reconhecer a plenitude que já existe em nós, e a viver de maneira mais digna e completa.