Prāṇa
-É comum ouvirmos que prāṇa significa simplesmente “energia”, mas essa palavra carrega uma dimensão muito mais ampla e subtil no contexto do yoga. O seu significado ultrapassa qualquer definição técnica ou científica, sendo vivenciado como a própria força vital que permeia o universo e sustenta a vida. Como disse um querido professor, talvez a melhor tradução para prāṇa seja manter o próprio termo, prāṇa – pois tudo o que se tente acrescentar será inevitavelmente incompleto.
Ainda assim, tentaremos humildemente apresentar uma ideia útil, capaz de inspirar e acompanhar as nossas práticas pessoais, permitindo-nos experimentar os efeitos desejados com clareza e estrutura.
“Prāṇa é a soma total de todas as forças contidas no universo.”
– Swami Sivananda
Podemos imaginar o prāṇa como o sopro vital, a energia subtil que recebemos em cada respiração e que sustenta toda a vida. Esta vitalidade permeia todo o universo, manifestando-se em cada fenómeno natural – no sopro do vento, no brilho da natureza, na vitalidade que anima cada ser vivo. Na prática de yoga, somos convidados a manter a respiração como um fio condutor, que anima o corpo, guiando-nos suavemente até à quietude interna e à presença consciente.
A respiração consciente, também muito explorada nas práticas de mindfulness, fortalece a relação com o nosso sistema somático, permitindo uma maior percepção corporal, emocional e a integração das sensações que surgem no momento presente. O mindfulness usa a respiração como um ancoradouro para a atenção, promovendo uma presença integral no momento presente, regulando o sistema nervoso e acalmando a mente.
Presente no corpo, na mente, nos pensamentos e emoções, o prāṇa é a essência vital sem a qual a vida não existiria. Descobrir conscientemente esta força é extraordinário, e o yoga oferece-nos ferramentas práticas e conscientes para explorar e regular esta fonte vital – o Prāṇāyāma.
Prāṇāyāma e Ciência Moderna
A ciência moderna também reconhece a respiração como ferramenta essencial para a regulação emocional e o equilíbrio do sistema nervoso. A Teoria Polivagal, desenvolvida por Dr. Stephen Porges, demonstra que a respiração consciente tem o poder de ativar e fortalecer o nervo vago, um componente chave na comunicação corpo-cérebro, permitindo estados mais profundos de segurança, calma e relaxamento.
“O nervo vago é um canal que comunica com o cérebro, informando-o sobre o estado do corpo, e pode ser modulado significativamente pelos processos da respiração consciente.”
– Dr. Stephen Porges
Ao unir as práticas ancestrais do prāṇāyāma com os conhecimentos científicos atuais, encontramos um método eficaz e profundo para a regulação emocional e mental.
Na prática do prāṇāyāma, o yoga ensina-nos a observar e interagir com as diferentes fases respiratórias, que são:
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- Puraka (inspiração) – recebendo e expandindo energia.
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- Antar Kūṁbhaka (retenção com pulmões cheios) – sustentando e integrando energia.
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- Rechaka (expiração) – libertando e acalmando.
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- Bahya Kūṁbhaka (retenção com pulmões vazios) – entregando e aprofundando o silêncio interior.
Cada uma dessas fases requer presença consciente e atenção subtil, oferecendo-nos a possibilidade de um percurso de auto-descoberta e regulação emocional. O yoga oferece diversas formas de atuar com essas fases, sendo fundamental o acompanhamento de um professor experiente que transmita este conhecimento de forma clara, segura e progressiva. Pessoalmente, dou especial ênfase à respiração nas minhas aulas, pois acredito que ela funciona como uma bússola que nos orienta em direção a uma mente e um coração tranquilos, um corpo sem resistências e à estabilidade interior que procuramos manter.
Exercício Breve para Acalmar o Sistema Nervoso: Antes de começar, saiba que este exercício pode ajudar a diminuir a ansiedade, a ativar o sistema parassimpático e a promover clareza mental.
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Sente-se confortavelmente com as costas direitas e os olhos suavemente fechados.
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Inspire lentamente pelo nariz, contando mentalmente até 4.
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Retenha suavemente o ar, contando mentalmente até 2.
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Expire lentamente pelo nariz ou boca, contando mentalmente até 6.
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Repita durante 3 a 5 minutos, sentindo a calma estabelecer-se progressivamente.
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“Na quietude da respiração, reencontramos o ritmo da vida.”